terça-feira, 29 de julho de 2008


Tempos Infinitos

segunda-feira, 28 de julho de 2008

512 páginas de história(s)

"O Rossio animava-se com o movimento das pessoas. Um bando de pombos esvoaçava incomodado por umas gaivotas atrevidas que haviam deixado a proximidade do Tejo para entrar nos seus domínios; pequenos pardais aproveitavam aquele alvoroço para debicar migalhas perdidas pelo chão, ocupando por sua conta uma das esquinas da praça e espalhando-se por algumas ruas laterais. Miguel observava aqueles pequenitos vivaços que evitavam os conflitos entre os maiores e que se fortaleciam enquanto os outros se desgastavam. Com um sorriso nos lábios pensava: «É assim que os pardais constroem seus impérios.»"

O Império dos Pardais, João Paulo Oliveira e Costa, Temas e Debates


domingo, 27 de julho de 2008

Venham mais cinco...

D. Dinis
D. Afonso IV
D. Pedro I
D. Fernando
D. Beatriz (regência de D. Leonor Teles)

O adeus de João Pinto

Nasci numa família de benfiquistas. O meu pai jogou enquanto jovem na ‘equipa da Rua dos Soeiros’ como costumo dizer. Recordo-me de saltar nos seus braços em miúdo ao ritmo das vitórias dos encarnados e de sofrer com a final de Estugarda, agarrado a uma pequena bandeira de pau com tecido grosso. 25 de Maio de 1988. Não esqueço esta memória de infância e a tristeza na cara do meu pai, desiludido com o falhanço de Veloso. Alguém tinha de falhar, é um jogo e não pode ser prolongado para sempre. Alguém tinha de ceder, mas logo o Benfica? Foi um golpe duro naquele quarto andar com vista para o cemitério, na zona oriental de Lisboa. Anos mais tarde, no embate contra o AC Milan em Viena, o golo no tempo regulamentar de Rijkard veio preparar os corpos para a derrota no apito final. Afinal, nada de trágico, os italianos eram a melhor equipa europeia e mundial à época.

Desde cedo acompanhei as vitórias e as derrotas do glorioso, empurrado pela pressão familiar do progenitor. Cheguei mesmo a ir ao Estádio da Luz, com a tal bandeira de pau, apoiar a equipa da casa. Por vezes, apostávamos no início do jogo o resultado final, cuja fé num gelado ou batatas fritas, quase sempre girava em torno dos 5 ou 6 a zero. Eram tempos de confiança cega no potencial concretizador benfiquista e no prémio, caso acertasse. O meu pai ganhava mas eu recebia a recompensa por entrar no jogo.

Eu ia ao estádio. Via os jogos em casa. Mas não estava convencido de que queria ser benfiquista para sempre. Havia qualquer coisa que me impedia de sentir por dentro uma alma rubra. Aquela era a única realidade que conhecia de perto e sem ligar muito ao clube não deixava o meu pai mal. O meu irmão envergava na perfeição a sucessão futebolística lá em casa mas eu não. Já o meu avô era sportinguista, desde sempre. Falava-me dos jogadores antigos do clube de Alvalade: os cinco violinos com os míticos campeonatos ganhos à força de dezenas de golos infligidos aos adversários; a mãe do Travassos que vivia junto ao estádio num rés-do-chão; as viagens de eléctrico dos jogadores com os adeptos, sempre de botas de travessões presas pelos atacadores, colocadas às costas, em amena cavaqueira; o argentino Seminário, um dos melhores ponta-esquerda que vira jogar em Portugal, vindo do Barcelona; a proximidade dos campos dos rivais, o do Benfica conhecido pela ‘caixa de fósforos’, todo ele com bancadas em madeira e em terrenos oferecidos pelo Sporting, num tempo de relacionamento amistoso entre emblemas. Fixei sempre estas histórias e as imagens antigas das revistas de futebol com nomes britânicos, entre elas a ‘Stadium’, com ilustrações de jogadores leoninos de cabelo cheio de brilhantina.

No dia 14 de Maio de 1994 a manhã acordou chuvosa. Talvez um prenúncio do que viria a acontecer mais tarde. Mais um derby lisboeta. Fui com o meu avô para Alvalade bem cedo e assim garantir os bilhetes de sócio. Apanhámos o autocarro na Almirante Reis, o que terminava mesmo junto à segunda circular. Havia a fé de que desta vez o Sporting poderia alcançar uma vantagem importante rumo ao título. Para isso a vitória sobre o Benfica era fundamental. Tal não aconteceu. Recordo aqui a única vez que vi o meu avô levantar-se antes do final de um jogo em Alvalade. Após o 2-6, com uma majestosa exibição do João Pinto, disse-me: “vamos embora!”, para meu espanto. Ainda vimos de pé, junto da saída, o golo de penalti marcado pelo Balakov. Mas o mal já estava feito. O passado é feito de memórias, com pessoas lá dentro. O João Pinto é uma delas, para tristeza do meu avô.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A empatia e as suas velocidades



Qual é a velocidade de um encontro? Será que a circunstância do tempo e lugar influencia a aproximação de duas pessoas? E como influencia? Depende esse encontro da atitude de um deles, ao saltar da sua posição inamovível na direcção do outro? Que posso eu dizer sobre isto? Só duas pessoas que nunca se viram desconhecem a existência da outra, mas o encontro vive de pormenores, sintetizados no minuto da circunstância feliz que acaba por dar sentido ao conhecimento um do outro. Pode ser um minuto, uma hora ou três horas, vividas no mesmo espaço, quatro paredes qual câmara de encontro que fecha duas pessoas para uma aproximação, de outro modo improvável. Quantas vezes não passamos pela mesma pessoa, sentados de frente num transporte público, no local de trabalho, sem troca de palavras, simples cumprimentos matinais ou despedidas vespertinas? Uma frase diferente, feita de outras palavras pode fazer toda a diferença. E se o comboio onde viajam parar na linha com falta de energia e o diálogo se tornar inevitável para preencher o silêncio colectivo na carruagem? E se o elevador, que muitas vezes partilham ao final da tarde, estancar num andar qualquer durante minutos a fio. Estará o vazio quebrado entre os dois?

E qual o motivo para a velocidade do encontro? Pode ser uma situação engraçada vista pelos dois num mesmo espaço, ou um livro que um deles está a ler, ou uma música que paira sobre ambos e que um resolve comentar. Todos temos velocidades diferentes e os encontros também. Se dependem do suave desenrolar da coincidência, acaso ou circunstância, não será menos verdade que uma força oculta nos impele para a aproximação? Eu quero acreditar que sim.

O segundo número da Visão História é dedicada à transição entre o final do Estado Novo e o período da 'Primavera Marcelista'. Com uma edição cuidada, destacam-se o portefólio (gosto muito desta palavra) de Eduardo Gageiro, o artigo referente a Salazar - vida e obra por Filipe Luís e o texto de Pedro Vieira sobre a Ala Liberal de Balsemão, Sá Carneiro e Companhia. Uma publicação na senda do que fazem os franceses com a L'Histoire e merecedora da atenção aqui do mamute.

CPLP e os outros



No XIII Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da CPLP que está a ocorrer em Lisboa, a Guiné Equatorial está presente como país observador. Nada de estranho para um país que tem como língua oficial o espanhol e depois o francês. Sendo aquela Guiné o terceiro maior produtor de petróleo da África sub-saariana e com um ditador sentado na cadeira (já não se fazem como antigamente) desde 1979, os seus responsáveis pensaram que tinham sido convidados para a Comunidade dos Países com Litros de Petróleo. Em vez de pastas com documentos, trouxeram bidons. A Nigéria e o Senegal pediram recentemente para entrar na organização, o que só pode ser explicado pelo interesse naquele precioso líquido.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

No Teatro Meridional está em palco a reposição de Cabo Verde - Contos em Viagem. A partir de uma selecção de textos de autores africanos, feita por Natália Luíza, viajamos através das palavras pelo universo do quotidiano cabo-verdiano. Cenografia luminosa e surpreendente, de objectos improváveis e cheiro de mar. Vale a pena uma ida ao Beco da Mitra (Rua do Açúcar) no Poço do Bispo para ouvir as histórias de novos e velhos naquele arquipélago fronteiro ao continente, numa mistura emocionada de condição de ilhéu, entre risos e saudades de tudo, e a paixão pelo mar, cais imenso de partidas levadas e saudades deixadas. Em palco apenas dois actores: Carla Galvão, com uma interpretação soberba e Fernando Mota, muleta preciosa nos arranjos musicais e outros que tais. Só até 3 de Agosto. Obrigatório.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

we're awesome, totally genius

O concerto da Aula Magna em Maio passado deixou um sentimento de dever cumprido. A expectativa fora amplamente superada e com direito a subida aos cadeirões para um Mr. November extasiado. Apesar do som, por momentos estridente, a entrega dos The National foi irrepreensível. Após uma passagem (algo despercebida?) pelo passeio marítimo de Algés, regressariam a Guimarães, integrados no festival Manta. No Centro Cultural Vila Flor, bem no centro da cidade do famoso filho que aplicou uma valente tareia à mãe, a noite quente acolheu os norte-americanos e o muito público que acorreu aos jardins de um espaço perfeito para duas horas de grande música. O recinto, com ares de piquenique, juntou muita rapaziada das redondezas, bem como famílias inteiras, os mais novos, certos do que estavam lá a fazer e os progenitores, certos do que a prole estaria a fazer durante aquelas horas. O alinhamento foi semelhante ao de Lisboa (confesso que não dei por alterações) e o ambiente, por ser mais familiar e ao ar livre, assentou na perfeição ao universo de veludo dos The National.


The Daughters Of The SoHo Riots em Guimarães, 'roubado' daqui

Tocaram o que tinham que tocar, com intensidade das guitarras, a força irrequieta do violino, a cadência serena da bateria e a voz cava de Matt Berninger. O modo como se movimenta em palco é um autêntico case study, entre uma esquizofrenia esbatida e uma timidez contra-natura para quem enfrenta um público rendido. Com o início da batalha (Start a War abriu as hostilidades) que durou duas curtas horas, o público acompanhou refrões, saltou, abriu braços e gritou I’m getting nervous na na na na na mas o alinhamento não tinha espaço (ou vontade) para Friend of Mine. Ficam na memória as excelentes interpretações de Daughters of The SoHo Riots (ganha uma dimensão épica em espaços mais intimistas como este), The Geese of Beverly Road, About Today (momento único de respiração suspensa), Lucky You, Mr. November (I used to be carried in the arms of cheerleaders cantado a plenos pulmões) e Abel, final perfeito de um encore de quarto temas. Sem esquecer Fake Empire e Slow Show, cuja letra provocou olhares emocionados entre casais apaixonados. Foi uma noite fantástica. Mais de trinta graus, Lua cheia e os olhos mais bonitos do mundo a meu lado.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Revisão da matéria



É já depois de amanhã em Guimarães.
Desta vez estarei ao ar livre e com a companhia ideal.
- O que é que te excita mais?
- A tua existência.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pergunta

Ela perguntou-lhe como tinha imaginado a sua próxima mulher. Ele não hesitou na resposta: alguém que o acompanhasse nos seus gostos, ouvisse a mesma rádio, gostasse do seu universo musical, corresse com ele ao ar livre, andasse de mão dada na rua, gostasse de partilhar os livros lidos, sentada ao seu lado no chão da sala, abrisse os olhos com jeito apaixonado logo pela manhã, tivesse sentido de humor e risse com as suas piadas. Ele não hesitou na resposta e ela gostou do que ouviu.
Às vezes saio fora de mim e olho de cima.
Sorrio sempre que nos vejo juntos.

sábado, 12 de julho de 2008

Na paz do Senhor

Na entrada do prédio onde vivo, a vizinha do rés-do-chão, com ar de avozinha simpática, despediu-se de mim com um «até amanhã, se Deus quiser». Se vivesse na margem sul seria algo parecido com um «até amanhã camarada». Vivo no campo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Para ti

A caminho de 11 de Novembro



Sigur Ros//Glósóli

Roubo de serviço

Numa estação de serviço pediram-me 6,50€ por quatro pilhas pequenas. O que uma pessoa não faz por amor à arte de ouvir música em pequenos aparelhos.

Vazio

Uma estante sem livros é como o cavername de um navio inacabado. Falta qualquer coisa, a outra metade de si.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Noites Azuis

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